Presidente que está há 20 anos no poder enfrentava protestos por causa de nova candidatura, apesar da saúde debilitada. Comboio do presidente Bouteflika se desloca por Argel neste domingo (10)
Reuters/Ramzi Boudina
A eleição presidencial argelina foi adiada e o atual presidente, Abdelaziz Bouteflika, não concocrrerá a um quinto mandato, informou o governo nesta segunda-feira (11).
Bouteflika retornou neste domingo a seu país, após duas semanas de internação na Suíça, onde se submeteu a exames médicos de rotina, anunciou a presidência argelina em comunicado divulgado pela agência de notícias oficial APS.
Debilitado desde 2013 por causa de um AVC, o presidente de 82 anos enfrentava desde o mês passado em toda a Argélia protestos milhares de manifestantes que se opunham à sua eventual reeleição para um quinto mandato em 18 de abril, algo sem precedentes desde a sua primeira eleição como chefe de Estado, em 1999.
Como explica a colunista do G1 Sandra Cohen, o presidente é comparado a um monarca, apesar do mérito de ter encerrado a guerra civil em 2005. As decisões de governo cabem a um grupo, conhecido como Le Pouvoir (o poder), concentrado em generais, políticos e empresários. Said, irmão mais novo de Bouteflika, comanda a coalizão.
Quando os protestos se intensificaram, há duas semanas, Bouteflika então propôs largar o cargo, mas somente um ano após as eleições marcadas para o próximo mês. As manifestações continuaram.
Mulheres protestam contra presidente da Argélia
Ryad Kramdi/AFP
Nesta segunda, a pressão sobre ele aumentou quando mais de mil juízes disseram que se recusariam a supervisionar as eleições se o presidente voltasse a concorrer. Ao mesmo tempo, clérigos muçulmanos reclamaram da intervenção do Estado em seu trabalho.
Em um comunicado, os juízes anunciaram a formação de uma nova associação “para restaurar o dom da justiça”. “Anunciamos nossa intenção de nos abster de … supervisionar o processo eleitoral contra a vontade do povo, que é a única fonte de poder”, disseram os juízes em um comunicado.
A declaração foi condenada pelo ministro da Justiça, Tayeb Louh, membro do círculo íntimo de Bouteflika, que disse que os juízes devem permanecer neutros.
“A independência e a integridade do juiz devem ser consistentes, sejam quais forem as razões”, afirmou ele, segundo a Ennahar TV.
Abdelaziz Bouteflika em foto tirada em abril de 2013. Presidente argelino teria sido internado após sofrer derrame celebral
Louafi Larbi/Reuters
Em outro revés para o presidente, que planejava disputar as eleições em abril, clérigos disseram ao ministro de Assuntos Religiosos que parasse de pressioná-los a emitir sermões pró-governo.
“Deixe-nos fazer o nosso trabalho, não interfira”, disse o clérigo Imam Djamel Ghoul, líder de um grupo independente de religiosos, em declarações aos repórteres.
Bouteflika enfrenta a disputa mais em seu governo que já dura 20 anos. Seus oponentes dizem que não há evidências de que ele esteja em condições de governar o país. As autoridades dizem que ele está no controle, apesar de suas raras aparições públicas.