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Em entrevista, ex-arquiteta-chefe da Catedral de Colônia fala dos riscos que a igreja parisiense ainda corre e diz preferir que a estrutura seja reconstruída como era antes do incêndio, sem intervenções modernas.Catedrais são estruturas complexas. Imagem aérea mostra a extensão dos danos ao telhado da Notre-Dame após o incêndio que destruiu parcialmente a catedral em Paris
Gigarama.ru via AP
A historiadora de arte Barbara Schock-Werner sabe disso não apenas como arquiteta e responsável pela conservação de monumentos, mas, sobretudo, pelos seus 13 anos como mestre construtora da Catedral de Colônia, a maior catedral gótica da Europa. Ela desempenhou a função entre 1999 e 2012.
Em abril do ano passado, ela foi encarregada pela ministra da Cultura e Mídia da Alemanha, Monika Grütter de coordenar a ajuda alemã à reconstrução de Notre-Dame em Paris e desde então vem acompanhando o processo de perto.
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DW: Patrick Chauvet, o clérigo responsável pela administração da Catedral de Notre-Dame, recentemente expressou sua preocupação com a condição sensível da igreja, afirmando que há 50% de chance de a estrutura desmoronar. Como você avalia esse prognóstico?
Barbara Schock-Werner: O risco de um colapso adicional é bastante realista. É improvável que o teto abobadado entre em colapso como um todo, mas mais partes podem cair.
O que a maioria das pessoas não percebe é que o calor também pode danificar a pedra. O calor intenso dissolve a estrutura da pedra.
O teto abobadado de Notre-Dame foi danificado pela queda de partes em três lugares diferentes. Toneladas de vigas de carvalho ainda estão caídas nas seções ainda em pé do teto; é por isso que não é permitido que ninguém fique sob ele, já que ainda há risco de queda de material.
O que é particularmente delicado neste momento do processo de reconstrução?
No momento, os construtores estão removendo os andaimes ao redor da torre de travessia que foi posta antes do incêndio para sua restauração. Esse andaime foi completamente soldado no lugar pelo intenso calor gerado pelo fogo. Philippe Villeneuve, o principal arquiteto dos monumentos franceses, teme que o equilíbrio que foi recuperado recentemente seja abalado quando o andaime for removido.
Além disso, ainda não foi possível apurar até que ponto o material do teto foi danificado pelo fogo. Mesmo que o teto não entre em colapso, as investigações poderão revelar que o material foi tão danificado pelo fogo que terá que ser substituído.
Somente quando essas condições forem esclarecidas será possível instalar um teto temporário e proteger a abóbada novamente. Até agora, os colegas de Paris tiveram sorte pelo teto abobadado não ter sido exposto a tempestades e outras intempéries.
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Thibault Camus/AP
Que outros obstáculos permanecem no processo de reconstrução?
Villeneuve disse que os 20 centímetros superiores das paredes externas foram recozidos e que investigações estão sendo realizadas. Se as pedras foram danificadas pelo fogo, toda a borda superior deverá ser substituída. Isso atrasaria ainda mais o processo. E, é claro, o onipresente pó de chumbo representa um risco para a saúde das pessoas. Trabalhar rapidamente no interior também é difícil, pois atualmente o trabalho só pode ser feito com máscaras de proteção.
Falando em atrasos, o presidente francês Emmanuel Macron parecia bastante ambicioso quando anunciou que a catedral seria reconstruída até 2024. Quão realista você acha que é esse prazo?
Bem, isso depende das condições do teto. Nosso colega parisiense também quer fechá-lo o mais rápido possível, para que o interior seja preservado e, assim, torne-se acessível ao público novamente. Toda a restauração da catedral – limpá-la por dentro e por fora, consertar as janelas, limpar as paredes, restaurar o órgão e assim por diante – certamente levará mais de cinco anos.
Mas, se as pessoas se concentrarem intensamente no trabalho e se não ocorrerem grandes desastres, o interior poderá ser restabelecido em cinco anos. Villeneuve trabalha de maneira muito eficiente e cuidadosa. Nem sempre é fácil, já que há pressão política.
Você está organizando a ajuda à reconstrução de Notre-Dame do lado alemão e serve como consultora. Como você pode ajudar concretamente no momento?
Ofereci que a Alemanha auxilie na restauração das janelas do clerestório (parede superior da nave), que já foram removidas. Acabei de enviar esta oferta à França e espero receber uma resposta nos próximos dois meses dos colegas franceses, para saber se consideram útil essa ajuda e se poderíamos intervir.
Atualmente, há vários tipos de projeto em discussão para uma abordagem de reconstrução mais moderna. Qual deles é o seu favorito?
O meu favorito é o da antiga flecha (torre central). A flecha do arquiteto Eugene Viollet-le-Duc (1814-1879), reconstruída no século 19, era uma obra-prima da arquitetura neogótica. Eu restauraria exatamente como era.
Dos projetos que estão em circulação, o de Sir Norman Foster, com sua torre de cruzes em aço inoxidável e cristal, parece-me o mais apropriado, pois complementa o edifício de maneira mais próxima. Mas, na verdade, sou a favor, como o é meu colega parisiense, de reconstruir o original.
Nos seus 13 anos como mestre construtora na Catedral de Colônia, você ficou conhecida por seu compromisso com a inovação. Há elementos modernos que você consideraria no contexto da reconstrução de Notre-Dame?
Sou reticente quanto a isso; isso é com os franceses. Se alguém construir uma obra de arte moderna no interior, um altar ou um memorial de um artista moderno que lembre a catástrofe… eu certamente posso imaginar isso. E isso seria algo bom a ser acrescentado, já que a Notre-Dame teve quase todos os seus altares originais saqueados durante as duas revoluções. Isso faria sentido.
VEJA TAMBÉM: Reitor da Notre-Dame diz que há 50% de chance de a estrutura não ser salva

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