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A estudante Mila, de 16 anos, viu sua vida virar de cabeça para baixo desde 18 de janeiro. Neste dia, a garota publicou um vídeo que viralizou na internet, em que faz críticas ao Islã para se defender de ataques homofóbicos. Nas redes sociais, internautas expressam seu apoio à adolescente Mila, no centro de uma polêmica sobre blasfêmia na França
RFI/Reprodução/Twitter
A estudante Mila, de 16 anos, viu sua vida virar de cabeça para baixo desde 18 de janeiro. Neste dia, a garota publicou um vídeo que viralizou na internet, em que faz críticas ao Islã para se defender de ataques homofóbicos. Desde então, vem recebendo diversas ameaças de morte, está sob proteção policial e foi obrigada a deixar de frequentar a escola.
“Sua religião é uma merda. Eu coloco um dedo no ânus do seu Deus”, afirmou a jovem na gravação postada nas redes sociais. A adolescente reagia a insultos homofóbicos por parte de um rapaz muçulmano que a chamou de “lésbica suja”. No vídeo, ela diz ter sido atacada “em nome de Alá”.
Mila não imaginava que o vídeo teria repercussões em todo o país e chegaria a mobilizar o governo da França, onde cerca de 9% da população é muçulmana. Ameaçada de morte, vítima de bullying nas redes sociais e na escola, que deixou de frequentar, Mila e a família estão sob proteção policial em Lyon, cidade onde vivem, no sudeste da França.
Blasfêmia não é crime
O caso da adolescente incita um debate sobre blasfêmia na França. O país foi o primeiro a abolir o delito desde a Declaração dos Direitos Humanos, após a Revolução de 1789. “Temos direito de criticar as religiões, mas não podemos insultar uma pessoa ou um grupo de pessoas devido à sua religião”, afirma Denis Lacorne, diretor de pesquisa do Centro de Pesquisas Internacionais (Ceri), de Paris.
Assim, Mila não pode ser processada, explica Jérôme Bourrier, procurador de Justiça da região onde vive a adolescente. “Qualquer que seja o tom chocante de suas afirmações, o objetivo era expressar uma opinião pessoal sobre uma religião, sem a intenção de provocar o ódio ou a violência contra indivíduos”, explica.
O incidente preocupa as autoridades francesas. Os investigadores trabalham para tentar encontrar os autores das ameaças de morte contra Mila. Por enquanto, a garota deixou de frequentar a escola e apagou todas as contas que utilizava nas redes sociais. “Disseram que iam jogar ácido em mim, que eu apanharia, seria despida em público ou enterrada viva”, afirmou a jovem, em entrevista ao canal TMC.
Mila diz não se arrepender de suas declarações, defendendo “o direito da blasfêmia”, mas pede desculpas às pessoas que ofendeu. “Não vou me esconder ou deixar de viver. Nunca quis ofender seres humanos. Quis insultar uma religião, dizer o que eu penso”, justifica.
Opinião pública dividida
Uma pesquisa do Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop) para a revista Charlie Hebdo publicada nesta terça-feira (4) afirma que os franceses estão divididos sobre o direito à blasfêmia. Ao serem questionados sobre o que pensam sobre o direito de criticar, mesmo de maneira agressiva, uma crença, um símbolo ou um dogma religioso, 50% afirmam ser favoráveis e 50% contra.
Com a forte repercussão do caso, nas redes sociais, internautas expressam seu apoio à jovem, com mensagens seguidas da hashtag #JeSuisMila (eu sou Mila). O movimento é similar ao #JeSuisCharlie, após o atentado terrorista de janeiro de 2015 contra a revista Charlie Hebdo.
A divisão também é registrada entre os representantes políticos. Uma parte da esquerda e algumas organizações feministas resolveram não se posicionar sobre a questão. Já o porta-voz do Partido Comunista Francês (PCF), Ian Brossat, lembra que “na França, temos o direito de criticar religiões”.
A ministra da Justiça da França, Nicole Belloubet, do partido governista A República em Marcha, considerou que “o insulto à religião é um ataque à liberdade de consciência”. A líder da extrema direita Marine Le Pen classificou as afirmações de Mila como “vulgares”. “Mas não podemos aceitar que por isso alguns a condenem à morte, na França, em pleno século 21”, considerou.
Já para o delegado-geral do Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM), Abdallah Zekri, a jovem “procurou problemas”. No entanto, ele lamentou que a garota esteja sendo ameaçada de morte.

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