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Kevork Tontian voltou à prisão duas vezes após ser solto para poder ficar perto de Wemson Cabral da Costa; penas de ambos serão concluídas em junho. Rejeitados por suas famílias, eles tiveram apoio de autoridades prisionais no Chipre. Kevork Tontian (direita) e o brasileiro Wemson Cabral da Costa durante entrevista à agência Associated Press, dentro da prisão em Nicosia, no Chipre, na quinta-feira (16)
AP Photo/Petros Karadjias
O cipriota Kevork Tontian conheceu o homem com quem queria passar o resto da vida atrás das grades. E nem mesmo a liberdade foi suficiente para mantê-lo afastado do brasileiro Wemson Cabral da Costa.
Tontian, um ex-viciado em heroína, diz que, depois de ter sido libertado do complexo prisional central do Chipre há dois anos, seu amor por Costa, juntamente com a rejeição da família à sua homossexualidade e o desencanto por perspectivas sombrias de emprego, o levaram a violar a lei novamente, apenas para que pudesse ficar perto do brasileiro na prisão. Liberado novamente um ano depois, Tontian foi preso uma terceira vez.
Agora, Tontian, 34, e Costa, 30, tornaram-se o segundo casal do mesmo sexo a se casar dentro de um estabelecimento correcional de um país membro da União Europeia.
Os casais do mesmo sexo no Chipre podem adotar uma união civil que lhes confere os mesmos direitos e privilégios que um casamento, exceto pelo fato de não poderem adotar filhos.
“Nós ousamos, ousamos, questionamos. Não há vergonha. O amor não tem vergonha”, diz Tontian à Associated Press em entrevista do teatro da prisão, com Costa sentado ao seu lado.
Uma contravenção relacionada a drogas levou Tontian à prisão em 2015. Ele lutou contra seu vício e o superou, e diz que está limpo há cinco anos.
A viagem de Costa para Chipre foi um assunto complicado, disse Tontian. Também rejeitado por sua família por causa de sua orientação sexual, Costa morava nas ruas e se prostituía para sobreviver.
Foi um apelo de sua avó doente por dinheiro para tratamento médico que levou Costa ao seu encarceramento. Costa confidenciou seu problema a um amigo, que se ofereceu para pagar as despesas médicas de sua avó se ele atuasse como uma “mula” e contrabandeasse drogas para o Chipre. Sua prisão no aeroporto de Larnaca resultou em uma sentença de cinco anos de prisão.
Kevork Tontian (direita) e Wemson Cabral da Costa caminham juntos dentro da prisão em Nicosia, no Chipre, na quinta-feira (16)
AP Photo/Petros Karadjias
Tontian e Costa começaram o relacionamento quando se conheceram durante um jogo de bingo na prisão. Seu vínculo se fortaleceu depois que eles receberam permissão para participar da parada do orgulho gay de Chipre sob supervisão.
Seus pedidos para participar conjuntamente das atividades prisionais, incluindo o trabalho no arquivo da prisão, culminaram em uma petição bem-sucedida para compartilhar uma cela.
Durante todo o namoro, as autoridades prisionais os apoiaram, mesmo quando nem tudo ia bem, disse Tontian. Os presos que agrediam verbalmente o casal eram transferidos para outras alas.
Sua decisão de formalizar seu vínculo por meio de uma união civil foi um produto de seu desejo de “se aproximarem um do outro”, diz Tontian.
Tontian disse que a diretora de prisões do Chipre, Anna Aristotelous, e sua vice, Athena Demetrou, ajudaram a fazer parte do trabalho braçal na coleta da documentação apropriada para a cerimônia da união civil. E, apesar de alguns atrasos causados pela burocracia do país, a cerimônia – que incluiu um bolo de casamento – ocorreu na semana passada na presença de funcionários da prisão e de um grupo de presos amigos do casal.
Aristotelous disse que a cerimônia é um reflexo do respeito das instalações pela dignidade humana, diversidade e orientação sexual de todos os presos.
“As percepções anacrônicas de alguns não representavam obstáculo para nós nem para o tratamento igual de todos”, diz ela à AP.
Atualmente, Costa está em terapia hormonal no hospital geral da capital cipriota como parte de uma possível mudança de sexo.
Tontian e Costa devem ser libertados na mesma época, em junho, e dizem que continuarão suas vidas juntos no Chipre – como esposo de um cidadão cipriota, Costa tem o direito de ficar. Mas o casal planeja muitas viagens ao exterior, incluindo visitas prolongadas ao Brasil, onde espera que a família de Costa os aceite.
A mensagem de Tontian para outros presos que desejam formalizar seu relacionamento é simples – “ouse”.
“Os pais não ficarão conosco por toda a vida; em algum momento, os pais partirão”, disse. “As pessoas deveriam fazer isso, deveriam ousar. Se eles perderem a família, que assim seja. Em algum momento a família se arrependerá”, conclui.

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