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O fogo começou em setembro, depois de um inverno muito seco. Desde então, as chamas só se acentuaram, potencializadas pelos ventos e por recordes de calor. Um bombeiro usa o celular para filmar uma queimada controlada perto de Tomerong, na Austrália, em um esforço para conter uma queimada maior próxima
Rick Rycroft/AP
Os incêndios devastadores que tomaram conta da Austrália, em especial na região sul, transmitem um alerta sobre o que pode estar por vir no futuro, com a intensificação das mudanças climáticas. O fogo começou em setembro, depois de um inverno muito seco. Desde então, as chamas só se acentuaram, potencializadas pelos ventos e por recordes de calor – e o verão recém começou no país.
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As imagens, em tons avermelhados, de pessoas e animais tentando se refugiar do fogo nas praias ou escapando de barco das áreas atingidas chamaram a atenção do resto do mundo para o problema. O climatologista Robert Vautard, especialista em fenômenos extremos e pesquisador sênior do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França (CNRS), afirma que as mudanças do clima tendem a fazer com que tragédias como essa se repitam com mais frequência nas próximas décadas.
“De fato, o que a Austrália está vivenciando é o que podemos esperar para o país nas próximas décadas. É uma imagem que resume a influência das condições extremas, em especial o calor extremo, que deve se reforçar ainda mais durante o século 21, com as mudanças climáticas”, indica. “É realmente uma imagem do futuro que estamos vendo hoje.”
Não significa que todos os países deverão enfrentar incêndios – cada região vai sofrer de acordo com as suas vulnerabilidades. No caso australiano, o aumento das temperaturas acentua os riscos de fogo, num país que costuma a enfrentar longos períodos de seca.
4 de janeiro – Um morador faz sinal de positivo e cobre o rosto com uma toalha enquanto ventos trazem fumaça e cinzas do incêndio conhecido localmente como Currowan em direção a Nowra, na Austrália
Tracey Nearmy/Reuters
Nuvens de fogo
O calor deixa não só o ar, como o solo mais quentes. Os ventos contribuíram para tornar os incêndios incontroláveis, intensificados por um fenômeno assustador: nuvens de fogo que pairam sobre as cidades.
“Esse fenômeno é conhecido, em especial na Austrália, quando há incêndios florestais muito intensos. É o que chamamos de pirocúmulos: nuvens do tipo cumulonimbus que geram trovões criados por um incêndio gigantesco”, explica Vautard. “Essas chamas induzem à ascendência da massa de ar, muito alto na atmosfera, a uma altitude em que a umidade pode se condensar e se transformar em chuva e trovões. Na Austrália, os cientistas estão avaliando atualmente se há um aumento desse fenômeno.”
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Alerta para a Amazônia
No resto do mundo, outras regiões como o entorno do Mar Mediterrâneo, o norte da América Central e o sul da África poderão enfrentar situações semelhantes neste século, com a intensificação das secas e o aumento das temperaturas. O alerta vale também para grandes áreas florestais, como a Amazônia.
“As secas aumentam o risco de incêndios, no entanto esse risco também deve aumentar em regiões com muitas florestas, como a Amazônia. Hoje, ainda não é o caso, mas as condições de propagação de incêndios devem se tornar mais favoráveis, em especial no leste e no nordeste da Amazônia, assim como em algumas partes da África”, adverte o climatologista francês.
O caso australiano coloca governos negacionistas das mudanças climáticas em uma situação embaraçosa – mas que, até agora, não foi suficiente para forçar a uma mudança de posição quanto ao tema. O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrisson, chega a acusar os ecologistas pelo drama que o país enfrenta atualmente.
O premiê também rejeita qualquer virada de rumos na poderosa indústria do carvão, que responde por um terço das exportações da Austrália – mas que também gera nada menos do que 7% das emissões mundiais de CO2 e outros gases de efeito estufa.
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“A Austrália não é o único a ter que diminuir bastante as suas emissões. Há muitos outros países que continuam aumentando as suas, inclusive na Europa e a própria França”, frisa o pesquisador. “Não estamos diante de um gráfico no qual as emissões declinam – por isso, temos todas as razões para pensar que as mudanças climáticas vão continuar e se amplificar ainda mais.”
Nesta quarta-feira (8), o serviço europeu Copernicus informou que o ano de 2019 foi o segundo mais quente já registrado no mundo e encerrou a década mais quente da história. Os dados publicados revelam que 2019 ficou apenas 0,04°C atrás do ano recorde de 2016, quando as temperaturas foram afetadas por um episódio especialmente intenso do fenômeno climático El Niño.
Os cinco anos mais quentes já vistos foram os últimos cinco, quando os termômetros subiram entre 1,1ºC e 1,2°C, em comparação com a era pré-industrial.

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