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Aos 67 anos, Stone se autodeclara um ‘trapaceiro sujo’ e tem uma tatuagem de Richard Nixon nas costas. A interferência de Trump no caso para defender o amigo chocou o público americano. Roger Stone, que foi condenado a mais de três anos de prisão
Getty/Via BBC
Roger Stone, estrategista político e aliado de longa data do presidente americano Donald Trump, foi condenado a 3 anos e 4 meses de prisão após ser considerado culpado por diversos crimes, incluindo os de obstrução da Justiça e de mentir para o Congresso.
O caso se tornou um escândalo nos EUA não só por Stone ser o sexto assessor de Trump condenado criminalmente em meio à investigação sobre conspiração entre sua campanha e a Rússia, mas por causa da interferência direta do presidente americano para aliviar a condenação do amigo e aliado.
Roger Stone, operador político ligado ao Partido Republicano
Epa/Via BBC
Inicialmente, os promotores responsáveis pelo caso haviam recomendado à Justiça uma pena de sete a nove anos — a pena padrão, pela legislação, para crimes como o dele.
No Twitter, porém, Trump disse que a recomendação de sentença era “muito horrível e injusta”. “Não posso permitir essa condução errada da Justiça”, escreveu.
Um presidente falar diretamente sobre um caso envolvendo um amigo seu e sendo julgado na Justiça não é comum nos EUA — é algo que não acontece desde o escândalo de Watergate.
Presidentes não comentam ações na Justiça envolvendo seus aliados, porque o Ministério Público não é independente do Executivo no país e isso por ser lido como interferência indevida. Portanto, a manifestação de Trump foi considerada chocante até mesmo para um público que já está acostumado com a forte presença do presidente no Twitter.
Outro fato surpreendente é que, no dia seguinte à manifestação de Trump, o procurador-geral William Barr, secretário do Departamento de Justiça, anulou a recomendação dos promotores e disse que a Procuradoria iria pedir uma sentença mais branda, abaixo do normal estabelecido pela lei.
Logo em seguida os quatro promotores de carreira inicialmente responsáveis pelo caso pediram demissão, um atrás do outro, em protesto contra a interferência.
Na quarta (19), Stone foi julgado em Washington e recebeu a pena de 3 anos e 4 meses. Trump deu indicativos que pode dar o perdão presidencial para seu aliado.
Mas afinal, quem é esse consultor político veterano que Trump não mediu esforços para defender? E o que levou ao seu julgamento e condenação?
“Trapaceiro sujo”
Stone trabalha para o Partido Republicano desde os anos 1970
Getty/Via BBC
Veterano político, Stone tem 67 anos e trabalha para o Partido Republicano desde os anos 1970. Fã de Richard Nixon — que sofreu um impeachment e renunciou após espionar o Partido Democrata — Stones se autodeclara um “trapaceiro sujo”.
Era considerado de pouca projeção nos últimos tempos, até ascender junto com Trump.
Stone foi condenado por mentir para o Congresso, obstrução de Justiça e corrupção de testemunha em sete ocasiões.
Sua condenação está ligada a afirmações que ele fez sobre os esforços feitos pela campanha de Trump para obter e-mails hackeados da campanha presidencial de Hillary Clinton, contra quem Trump concorreu 2016. O objetivo era prejudicar a candidata democrata.
Os e-mails foram publicados pelo WikiLeaks.
Stone diz ser fã do ex-presidente dos EUA Richard Nixon
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Algumas das mentiras de Stone eram sobre a existência de certos e-mails e textos, e outros eram relacionados a conversas com funcionários da campanha de Trump e com o “contato” da campanha com o WikiLeaks.
Promotores dizem que ele mentiu sobre a data das conversas e sobre a identidade do intermediário.
Stone também foi acusado de ameaçar uma testemunha da investigação, o comediante Randy Credico. Antes de um depoimento de Credico ao FBI (a polícia federal americana), Stone mandou mensagens dizendo para ele “se preparar para morrer” e chamando-o de “dedo-duro”.
Durante o julgamento, o promotor Aaron Zelinsky disse ao júri que Stones mentiu porque “a verdade prejudicaria Trump”.
Stone negou todas as acusações e disse que era vítima de perseguição política, mas foi condenado em 15 de novembro. Sua pena saiu nesta quarta-feira, mas foi menor do que a legislação normalmente determina.
Em sua sentença, a juíza Amy Berman Jackson disse que Stone teve uma conduta “intolerável, intimidadora e ameaçadora” contra ela.
Além dos anos de prisão, Stone também terá que pagar uma multa de US$ 20 mil (R$ 87 mil na cotação atual) e prestar 250 horas de serviço comunitário.
Fã de Nixon
Nascido no Estado americano de Connecticut em 1952, Stone se envolveu em política pela primeira vez aos oito anos, quando começou a tentar levantar votos para o candidato democrata John F Kennedy.
“Eu lembro de ir na fila da cantina e dizer para todas as crianças que o Nixon (adversário de Kennedy em 1960) era a favor de escola nos sábados”, disse Stone em uma entrevista para o jornal “The Washington Post” em 2007. “Foi meu primeiro truque político.”
Stone com o ex-presidente dos EUA Ronald Reagan
Getty/Via BBC
Mas seu alinhamento político mudaria depois de adulto. Stone começou sua carreira profissional ajudando na campanha de reeleição de Richard Nixon em 1972.
Uma comissão de investigação do Congresso americano em 1973, que investigava o escândalo de Watergate, revelou que Stone contratou um funcionário republicano para infiltrar a campanha do então candidato democrata, George McGovern, e sabotar o inimigo político de Nixon.
A descoberta fez Stone perder o emprego de assessor do senador Bob Dole, mas o assessor político insistiu que não violou nenhuma lei.
“O motivo pelo qual eu sou fã do Nixon é porque ele é resiliente e indestrutível”, disse ele em uma entrevista à revista New Yorker logo após tatuar o rosto do ex-presidente nas costas. “As mulheres adoram.”
Stone continuou trabalhando para o Partido Republicano. Fez parte das campanhas presidenciais de Ronald Reagan em 1980 e 1984 e participou da eleição de George Bush pai em 1988.
Mas Nixon continua ocupando um lugar especial na memória de Stone — além da tatuagem, ele tem um quarto cheio de objetos em homenagem ao ex-presidente em seu escritório na Flórida.
Qual sua ligação com Trump?
Nos anos 1990, Stone trabalhou como lobista para os cassinos de Trump e depois o ajudou em sua campanha para a Presidência no ano 2000, que não teve sucesso.
Stone trabalhou em uma iniciativa para que Donald Trump fosse candidato em 2000
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De acordo com o documentário da Netflix “Get Me Roger Stone” (Me traga o Roger Stone, em tradução literal), o estrategista político foi uma das pessoas que mais incentivaram Trump a concorrer à Presidência.
Durante a campanha de Trump em 2015, a dupla teve desentendimentos. Stone diz que se demitiu, Trump diz que ele foi demitido.
Mas, dias depois, Stone escreveu um artigo para o jornal “Business Insider” em apoio ao candidato.
Desde a eleição, Trump havia se afastado de Stone, apesar de o estrategista político sempre aparecer na televisão defendendo seu ex-chefe.
Em 2017, Stone teve a sua conta no Twitter temporariamente suspensa depois de atacar jornalistas e usar linguagem homofóbica para se referir ao apresentador da CNN Don Lemon.
Ele também sempre fez questão de chamar a atenção para seu vestuário — ele não usa meias e prefere ternos feitos sob medida.
“Se a vida é um palco, você deve estar sempre de figurino”, disse ao jornal “The New York Times” em 2015. “E se você está tentando passar autoridade em seus negócios, estar bem vestido é parte disso.”

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