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Pela evolução no número de casos, o Brasil está a 18 dias da Itália na pandemia do novo coronavírus. As estratégias para conter a Covid-19 e evitar o pior são o tema desta série de posts Gráfico elaborado pelo cientista Drew Harris e adaptado pelo biólogo Carl Bergstrom mostra como medidas de prevenção podem retardar o contágio da Covid-19 e evitar o colapso do sistema de saúde
Carl Bergstrom e Esther Kim/CC BY 2.0
Escrevi aqui na semana passada sobre a importância de “achatar a curva” de contágio pelo novo coronavírus para deter a epidemia antes que ela provoque o colapso do sistema hospitalar no Brasil, como já acontece na Itália e antes ocorreu na provícia chinesa de Hubei (caso não tenha lido o post anterior, vale a pena ler antes de continuar).
Mas como “achatar a curva”? O que funciona melhor? Vale a pena fechar fronteiras? Interromper a atividade de bares, restaurantes e lojas? Suspender aulas em escolas e universidades? Ou mesmo pôr sob quarentena as regiões mais afetadas? Procurarei responder a tais questões numa série de posts entre hoje e os próximos dias.
O primeiro fato a entender sobre a Covid-19 é que ainda sabemos muito pouco sobre a doença. Não conhecemos ao certo sua letalidade, nem mesmo quantos infectados existem no Brasil ou noutros países. Os números que permitiriam fazer estimativas precisas da sobrecarga nos hospitais ainda são incertos. O que sabemos, contudo, já é o bastante para despertar preocupação.
O total de casos registrados no Brasil – ontem o Ministério da Saúde confirmou 200 – está provavelmente muito abaixo do patamar verdadeiro. A maioria dos infectados apresenta apenas sintomas leves e nem chega a ser submetida a testes. A limitação do sistema de saúde ao testar casos suspeitos também subestima os infectados.
Tome o exemplo dos Estados Unidos. Pelo gráfico abaixo, o país parece menos afetado pela pandemia em comparação com outros. Só que os americanos aplicaram menos de 21 mil testes até agora, enquanto a Coreia do Sul faz, desde fevereiro, 10 mil por dia para uma população bem menor. Nada mais natural que haja menos registros da doença.
Evolução da epidemia de Covid-19 em diferentes países
Editoria de Arte/G1
Há ainda uma defasagem entre o momento dos primeiros sintomas e a confirmação da Covid-19. Considere a China. Em 22 de janeiro, véspera da quarentena de Wuhan, em Hubei, houve 250 diagnósticos confirmados. Nos dias seguintes, 2.000 doentes que procuraram hospitais diziam já estar contaminados naquela data, segundo relato na revista da Associação Médica Americana (Jama).
Logo no início, o crescimento dos casos segue um ritmo exponencial, embora arrefeça à medida que pacientes são curados (e adquirem imunidade) ou morrem. Os dados oficiais também demoram para constatar quando a situação está melhor. Na China, ainda se confirmavam mais de 3.000 doentes por dia no início de fevereiro, quando na verdade as infecções diárias haviam caído abaixo de 500.
A dúvida começa, portanto, no tamanho da curva que é preciso achatar. A partir dos primeiros 100 infectados, é possível ter uma ideia do ritmo de evolução da epidemia numa região. Apenas uma ideia. Como esse número só foi atingido no Brasil há três dias, o gráfico acima exibe uma comparação desde os primeiros 40 (para ficar mais fácil enxergar a diferença, a escala adotada é logarítmica: cada unidade no eixo vertical corresponde, na realidade, a dez vezes o número de casos da anterior).
Olhando para o gráfico, o Brasil está a exatamente 18 dias da Itália no nível de evolução da epidemia. Mas pode ser que, por aqui, o vírus não siga um ritmo tão dramático de crescimento quanto lá ou na Coreia do Sul. Nossa linha, ainda que no início, parece mais próxima de França, Alemanha, Espanha ou Reino Unido (não que isso seja tranquilizador…).
Uma das principais dúvidas é como a Covid-19 se comportará num país tropical, em estação ainda amena. O Brasil é talvez o primeiro campo de provas para o novo coronavírus no calor. Será que ele se comportará como o vírus da gripe, que recua no verão? Ou como o coronavírus da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), que não encontrou dificuldades para se espalhar pela Arábia Saudita sob temperaturas de 43º? Um estudo preliminar de prsquisadores da Universidade de Beihang sustenta a primeira hipótese (e traz certo alívio ao Brasil), mas na verdade ninguém sabe ainda.
O Brasil também tem um perfil demográfico aparentemente menos vulnerável, bem mais jovem que a Lombardia, onde a Covid-19 levou os hospitais ao colapso. Só que, no resto da Europa, os pacientes graves não têm sido apenas idosos, diabéticos, hipertensos e portadores de outras doenças, mas também aqueles com menos de 50 anos. O motivo é outro dos mistérios do novo coronavírus.
Os médicos ainda têm dúvidas sobre como tratar os pacientes. Um artigo na revista médica The Lancet especula sobre risco maior para quem toma certos remédios para pressão ou mesmo o popular ibuprofeno, mas os resultados não são conclusivos. Várias proteínas do genoma do vírus são alvo para futuras vacinas, mas estamos a no mínimo um ano e meio dos primeiros resultados concretos – e a muito mais tempo de programas disseminados de vacinação.
A letalidade varia bastante entre os locais onde medidas de contenção detiveram a epidemia e os que demoraram a agir. Em Hubei e na Itália, a taxa gira em torno de 5%. Na Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e nas regiões da China que implementaram diagnóstico rápido e isolamento dos doentes, fica entre 0,5% e 1%. A ação rápida pode, portanto, reduzir as mortes a um quinto ou um décimo.
A humanidade já venceu inimigos piores que a Covid-19. Ainda que as respostas às questões científicas mais importantes sobre a doença demandem tempo, de um fato não resta dúvida: se ela continuar a progredir no ritmo do gráfico acima, é certo o colapso no sistema hospitalar brasileiro – e muito mais gente morrerá, não só em virtude do coronavírus. Nos próximos posts desta série, discutirei quatro diferentes estratégias para tentar evitar o pior:
Rastreamento e isolamento dos infectados (Taiwan, Cingapura e Hong Kong);
Contenção do contato social e fechamento de fronteiras (Espanha, Estados Unidos e Brasil);
Mitigação e quarentena radical (China e Itália);
Tolerância com o contágio para adquirir imunidade coletiva (Reino Unido).

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