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Cientistas analisaram dados e não viram desvio indicativo de irregularidade em apuração que dava vitória a Evo Morales, que depois acabou obrigado a renunciar por militares. OEA respondeu que análise não à ‘nem honesta, nem baseada em fatos’. Imagem de Evo Morales durante entrevista no dia 6 de janeiro de 2020
Matias Baglietto/Reuters
Uma dupla de cientistas de dados do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA, desafiou o relatório da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre fraude nas eleições na Bolívia em outubro do ano passado.
John Curiel e Jack R. Williams, os pesquisadores do MIT, publicaram um texto no jornal americano “The Washington Post” sobre o tema na quinta-feira (27). O título é o seguinte: “A Bolívia desconsiderou as eleições de outubro por serem fraudulentas. Nossa pesquisa não encontrou um motivo para suspeitar de fraude”.
A OEA, em nota publicada nesta sexta-feira (28), contestou as afirmações de Curiel e Williams.
Contexto das alegações de fraude
A eleição presidencial de outubro de 2019 foi a quarta com a participação de Evo Morales, e ele inicialmente foi declarado vitorioso nesse pleito.
Durante a apuração de votos, houve um primeiro imprevisto. Havia duas contagens. A mais rápida não representava o resultado efetivo, mas servia para medir o progresso da contagem oficial, mais lenta.
Policiais bolivianos protestam contra Evo Morales em Santa Cruz de la Sierra, antes de ele deixar a presidência
Rodrigo Urzagasti/Reuters
Inicialmente, a contagem mais rápida mostrou que haveria um segundo turno, um resultado ruim para Evo.
No entanto, houve uma interrupção dessa contagem quando 84% dos votos haviam sido contabilizados. Quando ela foi retomada, passou a mostrar que Evo iria mesmo vencer logo na primeira etapa.
Essa contagem foi então interrompida definitivamente, e passou a valer unicamente a apuração mais lenta e oficial.
Protestos e renúncia
Uma parte da oposição foi às ruas e fez protestos com a alegação de que a votação havia sido fraudulenta.
No dia 10 de novembro, a OEA publicou um relatório em que afirmava que, de fato, a vitória de Morales teve irregularidades.
No mesmo dia, Morales anunciou que iria realizar uma nova votação. Não foi o suficiente para diminuir a pressão que ele sofria. Os militares exigiram sua saída, e ele renunciou e se exilou –primeiro no México, depois na Argentina.
“Como especialistas em integridade em eleições, concluímos que a evidência estatística não corrobora a afirmação de fraude nas eleições de outubro”, afirmam os autores do MIT.
Em seu texto, eles citam que os auditores da OEA encontraram fraudes na interrupção da contagem do voto preliminar. A OEA afirmara que estava surpresa com as mudanças da contagem inicial e a mudança de tendência dos resultados preliminares.
Para a entidade, os desvios de dados antes e depois da interrupção eram significativos, o que indicava fraude. Os autores do artigo no “Washington Post” discordam da OEA.
“Nossos resultados são diretos. Não parece haver uma diferença estatística significativa na margem antes e depois da interrupção do voto preliminar. No lugar disso, é altamente provável que Morales ultrapassou a barreira de 10 pontos percentuais [de vantagem] no primeiro turno”, afirmam Curiel e Williams.
“Não há evidências estatísticas de fraude que tenhamos encontrado — as tendências na contagem preliminar, a falta de um grande salto na vantagem de Morales após a interrupção e o tamanho da sua margem parecem todos legítimos. Em suma, a análise estatística e as conclusões da OEA parecem profundamente falhas”, diz o artigo.
A OEA respondeu nesta sexta-feira (28) afirmando que artigo dos pesquisadores do MIT ignora as principais conclusões do relatório de auditoria da OEA. Essas conclusões, destaca a organização, “provam inequivocamente que houve manipulação intencional da eleição” em duas áreas:
Alteração nas folhas de registros dos votos e a falsificação da assinatura dos oficiais responsáveis por urnas
No processo de contagem, as informações das votações foram redirecionadas para servidores que não eram controlados pelo Supremo Tribunal Eleitoral
“O artigo não é nem honesto, nem baseado em fatos, nem abrangente. Acima de tudo, não é ‘científico’. Estou frustrado que o artigo não atinja os padrões básicos de jornalismo. A OEA mantém seu trabalho”, afirma Gonzalo Koneke, chefe de equipe do secretariado da entidade.

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