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Plano da socialista Anne Hidalgo enfrenta críticas, especialmente com relação à falta de infraestrutura e segurança na capital francesa. Em foto de setembro de 2019, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, anda de bicicleta acompanhada do presidente do comitê dos Jogos Olímpicos de 2024, Tony Estanguet
Stephane De Sakutin/AFP
Imagine uma cidade 100% voltada para os ciclistas. Assim poderá ser Paris, caso a atual prefeita da capital francesa conquiste um segundo mandato nas eleições de 15 de março de 2020. Porém, o plano da socialista Anne Hidalgo enfrenta críticas, especialmente com relação à falta de infraestrutura e segurança para quem se desloca de bicicleta.
A menos de dois meses do primeiro turno das eleições municipais na França, o anúncio da candidatura de Anne Hidalgo, no domingo (12), veio acompanhado de um projeto audacioso para os transportes urbanos. Diante da emergência climática, a ecologia será a base da plataforma de campanha da primeira mulher a ocupar a prefeitura de Paris, onde a esquerda está no poder desde 2001.
“De bicicleta, iremos ainda mais longe”, afirmou Hidalgo em entrevista publicada no site do jornal Parisien. “Novas ciclovias serão espalhadas por toda Paris, ocupando vagas que hoje são de estacionamento. E novos acessos ligarão a capital aos municípios da chamada Grande Paris”, completou.
Mas apesar das promessas, a prefeitura ainda não conseguiu concluir um “plano bicicleta” lançado na atual legislatura e teve que enfrentar o fiasco em que se transformou a mudança do sistema de bicicletas de autoatendimento, o Vélib.
Investimentos
Paris estabeleceu o objetivo ambicioso de se tornar uma capital mundial do ciclismo. Desde 2015, a cidade vem fazendo investimentos sem precedentes de mais de € 150 milhões (R$ 690 milhões) na extensão de ciclovias.
O governo municipal prevê a criação de uma rede expressa de ciclovias (REVe) com corredores nos dois sentidos, contínuos e homogêneos nos eixos Norte-Sul e Leste-Oeste, nas margens do rio Sena, ligando o Bois de Vincennes, ao Bois de Boulogne. Um outro anel para ciclistas deverá ser formado pelos chamados Grands Boulevards e o Boulevard Saint-Germain, com previsão de 61 km de extensão.
Além disso, a atual administração propõe a criação de mais 10 mil vagas de estacionamento para bicicletas. Outra medida importante prometida pela atual prefeita é a retirada dos carros do “coração de Paris” (região formada pelos distritos centrais 1, 2, 3 e 4). O programa também prevê transformar a rotatória do Etoile (Arco do Triundo) e da Praça da Concórdia em áreas de pedestres.
Perigo à vista
Situada ao pé da Avenida Champs-Élysées, a Concórdia é a segunda maior praça da França e um dos locais mais perigosos para os ciclistas parisienses, segundo Charles Maguin, presidente da Associação Paris en Selle (Paris no selim, em tradução livre).
A entidade perguntou a 14 mil usuários de bicicleta da capital e do subúrbio quais eram os locais onde eles se sentiam inseguros ao circular. Com mais de seis mil respostas, o levantamento feito em 2017 concluiu que a Praça da Concórdia, assim como o Boulevard Saint Germain, são pontos temidos pelos ciclistas, já que nesses locais eles precisam disputar espaço com ônibus e, às vezes, com carros e motos.
A falta de infraestrutura e problemas de segurança também são apontados como o principal desafio para o projeto de transformar Paris numa cidade modelo para ciclistas. “Existem vias especiais, mas não em todos os bairros”, alerta Jean-Sébastien Catier. O porta-voz da Associação Paris en Selle cita pesquisa em que 60% dos habitantes da capital aprovam as bicicletas, mas não as utilizam por medo de acidentes. 
Ajuda financeira
Como forma de incentivar os parisienses a deixarem o carro em casa, a prefeitura oferece linhas de financiamento especiais para a compra de bicicletas. Os valores chegam a € 400 (R$ 1.840) para quem quer investir num modelo elétrico. Mas a medida não é suficiente, diz Catier.
“Todos sabemos dos benefícios para a saúde de quem pedala e dos impactos na diminuição da poluição, mas somente mais segurança poderá convencer as pessoas a utilizarem bicicletas”, completa.
Em meio à polêmica, a entidade lembra que dois terços dos parisienses apoiam medidas para retirar os carros das ruas.
Viagens em números
Ao diminuir o tráfego automobilístico, “Paris segue uma tendência mundial”, afirma o economista de transportes e urbanismo da Universidade de Lille, Fréderic Heran. O especialista destaca que a capital francesa já é uma cidade em que mais da metade dos deslocamentos são feitos a pé, enquanto um terço é feito de metrô ou trens urbanos. A principal razão é a alta performance da rede de metrô de Paris, cuja malha de 14 linhas atravessa todas as regiões.
“Apenas 10% dos deslocamentos na capital francesa são feitos de carro, um número que diminui, em média, 4% ao ano”, calcula Heran. O especialista observa que o tráfego automobilístico em Paris caiu pela metade desde 1990 e lembra que o primeiro prefeito a tomar iniciativas nesse sentido foi Jean Tiberi, representante da direita, que governou entre 1995 e 2001.
No mesmo período, a velocidade média da circulação de veículos diminuiu 33%, ou seja, de uma média de 21 km/h, em 1990, para 14 km/h atualmente.
Por outro lado, os deslocamentos de bicicleta, que hoje somam 4% do total, aumentam numa média de 10% ao ano. “Acreditamos que o uso do carro pode cair ainda três vezes mais em Paris, chegando ao ponto em que teremos apenas veículos de segurança, ambulâncias ou carros para deficientes. Contudo, o principal concorrente das bicicletas continuará sendo o metrô”, conclui.
O especialista em urbanismo explica que raramente os automobilistas usam bicicletas e a tendência é que usuários de carro sejam obrigados a se mudar para longe do centro, já que medidas para conter a circulação de veículos devem se tornar mais frequentes no futuro.
Frédéric Heran afirma que normalmente são os pedestres e usuários do transporte público que migram para alternativas menos poluentes, como a bicicleta. Nesse caso, as variáveis que podem fazer a diferença nessa equação são o conforto, especialmente durante o período de inverno, e o fato de que não é possível ler na bicicleta, esse sim um hábito do qual os franceses dificilmente deverão abrir mão em seus deslocamentos. 
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