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Acusado de corrupção e expulso de seu partido, o deputado foi nomeado presidente da Câmara com o apoio de chavistas. O opositor Juan Guaidó, impedido de entrar na Câmara, acusou a eleição de ‘golpe parlamentar’. Luis Parra foi proclamado presidente da Assembleia Nacional da Venezuela
AFP
Até este domingo, ele era pouco conhecido. Mas, depois do conturbado dia na Assembleia Nacional da Venezuela, Luis Alberto Parra Rivero, mais conhecido como Luis Parra, tornou-se um dos protagonistas da política do país latino-americano.
Parra, de 41 anos, foi proclamado presidente da Assembléia Nacional em uma eleição marcada por empurrões, discussões acaloradas e denúncias de golpe.
O principal opositor do regime de Nicolás Maduro, o deputado Juan Guaidó, até agora presidente da Câmara, foi impedido pela Guarda Nacional de acessar a casa legislativa — jornalistas também enfrentaram problemas para acompanhar a eleição. Guaidó até tentou pular o portão do prédio, mas policiais o impediram com escudos.
Segundo ele e seus apoiadores, Parra é o protagonista de um “golpe parlamentar”.
Por sua vez, Parra afirma que Guaidó “sequestrou o Parlamento” e prometeu trabalhar pela “despolarização” do país.
Poucas horas depois da eleição para a presidência do Legislativo, Maduro fez um pronunciamento na televisão estatal. Ele afirmou que “o país repudiava Juan Guaidó como uma marionete do imperialismo”.
Apesar das imagens que mostram o opositor sendo impedido de entrar na Assembleia Nacional, Maduro disse que “se Guaidó não queria entrar, era porque não tinha votos (para se reeleito chefe da Casa)”.
Na mesma mensagem, o presidente reiterou que haverá eleições legislativas na Venezuela neste ano.
Já a maneira como Parra foi eleito, em meio a reclamações de compra de votos e restrições de acesso a apoiadores de Guaidó, colocou em dúvida a legitimidade do novo chefe do legislativo venezuelano.
Mas as controvérsias que cercam sua figura são um pouco mais antigas.
Suspeitas de corrupção
Parra nasceu na cidade da Independência, no Estado de Yaracuy, no noroeste do país. Ele é formado em Administração de Empresas pelo Instituto Estadual de Tecnologia do Estado.
Ele foi eleito deputado em dezembro de 2015 pela Mesa da Unidade Democrática, uma coalizão de políticos opositores ao regime chavista de Maduro.
Antes, Parra foi militante do movimento estudantil e responsável pela coordenação regional em Yaracuy do seu partido, Primeiro Justiça, que também era da oposição ao atual governo da Venezuela.
Seu trabalho como parlamentar se concentrou na Comissão de Meio Ambiente, Recursos Naturais e Mudanças Climáticas.
Parra afirma ter realizado várias iniciativas contra o Arco Mineiro do Orinoco, um plano do governo de exploração de recursos naturais que foi denunciado por grupos ambientalistas e ativistas por seus efeitos nocivos ao meio ambiente.
No entanto, não foi por essa atuação que Parra ganhou sua notoriedade recém-adquirida. Em dezembro do ano passado, ele foi acusado de participar de um esquema de corrupção.
Segundo reportagens do portal de jornalismo investigativo Armando.info, deputados de diferentes partidos da oposição, incluindo a Vontade Popular (ao qual Guaidó pertence), agiram em instâncias como o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos e o Ministério Público da Colômbia para que esse órgãos parassem de investigar empresários envolvidos na suposta rede de corrupção em torno do sistema CLAP.
Os Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP) foram a solução que o governo da Venezuela encontrou para combater a escassez de alimentos no país, em 2016. As bolsas e caixas CLAP consistem na entrega de alimentos a domicílio por um preço menor que o do mercado comum.
O escândalo em torno do sistema estourou em maio de 2018, quando investigações jornalísticas revelaram que os empresários colombianos Alex Nain Saab Morán e Álvaro Enrique Pulido Vargas se beneficiaram de contratos milionários com o governo de Maduro para a distribuição dos produtos.
Segundo as reportagens, empresas ligadas à rede de negócios de Saab e Pulido obtiveram ganhos milionários por sua participação neste programa, que também estaria fornecendo alimentos de baixa qualidade à população.
Os políticos denunciados teriam enviado cartas endereçadas a autoridades estrangeiras atestando que não havia investigações em andamento na Venezuela contra esses empresários.
O deputado Luis Parra, agora alçado à presidência da Assemblea Nacional, foi acusado de ter negociado com o empresário colombiano Carlos Lizcano para que um grupo de parlamentares trabalhasse em defesa dos envolvidos.
Parra negou todas as acusações. Porém, seu partido, Primeiro Justiça, o expulsou, embora ele tenha mantido seu assento no Parlamento.
Aliado inesperado de Maduro
Embora Parra faça críticas ao governo, o político se tornou um aliado inesperado do chavismo e de seu atual líder, Nicolás Maduro. Isso porque ambos tentam enfraquecer Juan Guaidó, que já se autoproclamou presidente do país e, como tal, foi reconhecido pelo Brasil, Estados Unidos e outras nações.
Pouco antes da sessão em que a Assembleia Nacional deveria ser constituída para 2020, o deputado José Brito anunciou que Parra concorreria à presidência da Câmara. “Guaidó, seu tempo acabou”, disse Brito, também citado em denúncias de corrupção no caso CLAP.
Nos últimos dias, deputados da oposição denunciaram “tentativas do governo de subornar ou intimidar os legisladores” que decidiram apoiar Guaidó.
Ao contrário de Guaidó, Parra não teve problemas para acessar as dependências da Câmara nesse domingo.
Ele esperou sentado em seu assento ao lado de Brito até que os deputados que o apoiam assumissem o controle da eleição, em meio a brigas e discussões com os legisladores da oposição. Depois, Parra subiu ao assento normalmente reservado ao presidente da Casa.
Na cadeira, ele fez o juramento como chefe do Legislativo em meio à festa dos chavistas e às vaias da maioria de seus oponentes.
Nesse domingo, o até então desconhecido Luis Parra chegou ao centro da longa crise política da Venezuela. Agora, quem precisa se acostumar com ele é o povo venezuelano.

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