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A vitória avassaladora na Carolina do Sul e a desistência de Pete Buttigieg fazem do ex-vice de Obama o principal desafiante do líder Bernie Sanders na véspera da Super-Terça O ex-vice-presidente Joe Biden fala durante um comício em Colúmbia, na Carolina do Sul, na noite de sábado (29/3), quando pela primeira vez venceu uma primária
Gerald Herbert/AP
Duas semanas atrás, a candidatura de Joe Biden era dada como morta. O ex-vice de Barack Obama amargara derrotas vergonhosas nas prévias democratas em Iowa (quarto lugar) e New Hampshire (quinto). Seu eleitorado era cortejado pelo bilionário Michael Bloomberg, pelo prefeito Pete Buttigieg (que levou mais delegados em Iowa) e até pela senadora Amy Klobuchar (azarã no terceiro lugar em New Hampshire). Para não falar em Bernie Sanders, o favorito a vencer as primárias.
Pois hoje, véspera do dia decisivo das prévias, a Super-Terça em que estará em disputa um terço dos delegados eleitos (1.357 dos 3.979), Biden desponta como principal desafiante de Sanders. Bloomberg despejou centenas de milhões de dólares em propaganda nas disputas de amanhã, mas despencou nas pesquisas depois de trucidado por Elizabeth Warren no debate anterior à prévia de Nevada. Buttigieg desistiu da candidatura diante da vitória avassaladora de Biden anteontem na Carolina do Sul.
Aquele que antes se configurava um cenário fragmentado, com diversos candidatos dividindo os eleitores e favorecendo o movimento engajado em torno de Sanders, deverá se desenhar, a partir de amanhã, como uma luta entre dois contendores: Sanders e Biden. É verdade que o primeiro continua favorito a somar o maior número de delegados, mas fica a cada dia mais difícil que obtenha a maioria necessária para levar a candidatura na primeira votação da convenção de julho, em Milwaukee.
A partir do segundo escrutínio, ganham voto 771 superdelegados, caciques partidários que na certa preferirão qualquer outro nome a alguém que se identifica como “socialista” (ainda que com o adendo “democrático”), planeja estatizar a saúde, perdoar dívidas estudantis, aumentar impostos – e cujo programa prevê ampliar gastos públicos em algo como um quarto do PIB (US$ 60 trilhões em dez anos).
Biden começou a se reerguer no debate anterior à prévia de Nevada. Lá, era certa a vitória de Sanders, mas, ao ficar em segundo, Biden demonstrou que ainda estava vivo. Na semana passada, no debate da Carolina do Sul, seu bom desempenho fez renascer o entusiasmo em torno da candidatura antes moribunda. Recebeu apoio do deputado Jim Clyburn, principal liderança democrata local e, superando as expectativas, saiu das urnas com 48% dos votos, ante 20% de Sanders. Superou o rival em total de votos e encostou no total de delegados até agora (59 para Sanders, 55 para Biden).
Era esperado que Biden vencesse as primárias na Carolina do Sul, estado com que mantém relações históricas, e onde o eleitorado majoritariamente negro tem um perfil moderado avesso às ideias de Sanders. Não se esperava, contudo, uma margem tão ampla, que consolida o favoritismo de Biden em todos os estados do Sul de composição demográfica semelhante que realizam primárias amanhã: Alabama, Tennessee e Oklahoma.
O efeito da vitória na Carolina do Sul pode ser medido nas projeções do site FiveThirtyEight para o total de delegados arrebanhados na Super-Terça. Antes, os modelos estatísticos atribuíam 587 a Sanders, 305 a Biden e 211 a Bloomberg. Depois, esses números mudaram, respectivamente, para 540, 395 e 194. Isso pouco antes da desistência de Buttigieg, a quem ainda eram atribuídos 50 delegados. De acordo com uma análise da Economist, Biden é quem deverá herdar a maior parte dos votos de Buttigieg: quase 40% consideram votar no ex-vice de Obama, pouco mais do que aqueles que também pensam em Warren e bem mais que os cerca de 25% que se inclinam para Sanders.
A desistência de Buttigieg pode representar também um primeiro sinal de união na ala moderada do partido em torno da candidatura Biden, para evitar os riscos associados a Sanders. Apenas Bloomberg tem mais potencial que Buttigieg para tirar votos de Biden – e um resultado mediano amanhã tenderá a contribuir para esvaziar a campanha do bilionário. A permanência de Klobuchar, pelo menos até a Super-Terça, cria dificuldades para Sanders na primária de Minnesota, base eleitoral dela. O mesmo raciocínio vale para Warren em Massachussetts.
Nada disso significa que Sanders possa ser descartado como favorito. A Carolina do Sul era um estado especialmente acolhedor para Biden. Não necessariamente o eleitorado negro do resto do país terá o mesmo comportamento. Em Nevada, Sanders demonstrou sua capacidade de conquistar o eleitor hispânico. Disso resulta em parte seu favoritismo nos dois maiores estados que realizam primárias amanhã, Texas e, principalmente, Califórnia.
Sanders também apresenta desempenho fenomenal entre os jovens e anima, como nenhum outro candidato à exceção do presidente Donald Trump, um movimento apaixonado e engajado, capaz de fazer enorme diferença para mobilizar eleitores num país onde o voto é facultativo. Biden é o preferido pelos mais velhos, numa repetição da divisão etária que marcou o plebiscito do Brexit no Reino Unido.
Tradicionalmente, o eleitorado mais velho comparece em maior proporção às urnas. A mobilização dos jovens sem paralelo poderia, contudo, mudar esse quadro em favor de Sanders. Não só nas primárias, mas também na disputa contra Trump em novembro. Se Sanders obtiver o maior número de delegados – mas não a maioria – e Biden sair candidato depois de uma convenção disputada em julho, seu principal desafio para vencer Trump será lidar com o ressentimento do apaixonado eleitorado sanderista.
A hipótese de que Biden tenha mais capacidade de atrair os “moderados” ou quem votou em Obama em 2012, mas preferiu Trump em 2016, encontra pouco respaldo nos números. Em estados do Meio-Oeste como Michigan e Pensilvânia, essenciais para a vitória de Trump, Sanders tem obtido desempenho melhor nas pesquisas. Há bons argumentos para achar que o melhor candidato contra Trump seja Biden, mas também que seja Sanders (explicados neste post). Só um levará a candidatura – e a disputa está agora entre os dois.

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