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Pode soar como exagero, mas os holofotes de 2020 estarão acesos na direção de Donald Trump e Boris Johnson. O ano começará com a votação do impeachment do terceiro presidente americano no Senado e poderá terminar com a sua reeleição. Ou não. E o Brexit, que patinou no limbo durante três anos e meio, finalmente seguirá adiante como fato consumado, embalado pela vitória aterradora do premiê conservador britânico.
A campanha americana será mais nefasta do que a de 2016, sob a sombra do processo de destituição de Trump, embora as chances de aprovação no Senado sejam praticamente inexistentes. Para obter a maioria de dois terços, os democratas teriam que ser bem-sucedidos na hercúlea missão de convencer 21 republicanos de que o presidente abusou do poder para favorecer seus interesses eleitorais.
Ultrapassada a fase do impeachment, restará aos dois partidos contabilizar os prejuízos. Ambos os campos têm sérios problemas. Republicanos podem safar Trump. Resta saber, contudo, se ele escapará da condenação da opinião pública. Os democratas, por sua vez, ainda não moldaram o seu candidato ideal para fazer frente ao presidente. Doze já desistiram antes da primeira primária, em Iowa, em 3 de fevereiro.
Os 16 pré-candidatos que ainda postulam o cargo contribuem também para dispersar o eleitor e aglutinam desvantagens como a idade avançada ou posições consideradas radicais para o partido. A união contra o presidente expõe divisões entre moderados, como Joe Biden e Pete Buttigieg, e os que se situam à esquerda do partido, como Bernie Sanders e Elizabeth Warren.
Nesse ponto, a humilhante debacle de Jeremy Corbyn nas eleições britânicas — o pior resultado do Partido Trabalhista desde 1935 — pode servir de lição à oposição nos EUA. A mensagem anti-Trump não é o bastante para derrotar o presidente e fazer com que os democratas recuperem a Presidência.
Até o ex-presidente Barack Obama, que ainda não deu seu aval a nenhum dos pré-candidatos, alertou sobre o risco de um giro brusco para a esquerda — o de afastar o americano médio que não quer mudar o sistema, por pior que seja o inquilino da Casa Branca.
Os britânicos rejeitaram Corbyn como condutor de um governo à esquerda dos trabalhistas, que prometia nacionalizar setores privatizados na década de 1990. Demonstraram também cansaço e raiva com idas e vindas de um divórcio tumultuado com a União Europeia, em que o litígio ganhou força no interior do Parlamento britânico.
Com a legitimação de Boris Johnson, que soube tirar proveito do impasse e um opositor que inspirava menos confiança do que ele, mais uma vez triunfou das urnas a perspectiva nacionalista. O presidente Trump rapidamente acenou para o aliado com a assinatura de um acordo bilateral entre EUA e Reino Unido.
A expectativa é a de que agora o Brexit tire o país do estado catatônico, para entrar numa segunda etapa — não menos conturbada, mas que ao menos avançará. O Reino Unido bate em retirada no dia 31 de janeiro e tem até o fim do ano para desvencilhar-se das amarras aduaneiras que ainda o unem ao bloco.
Para os países da América Latina em convulsão social — outro foco dos holofotes — é como se 2019 ainda não tivesse terminado. Há fortes razões para acreditar que os protestos em Chile, Colômbia e Haiti prosseguirão sem um caminho claro, mas estimulados pela sua rápida propagação nas redes sociais.
O jogo de forças políticas no continente mudou com as vitórias de Alberto Fernández, na Argentina, e Luis Lacalle Pou, no Uruguai, além da renúncia de Evo Morales. A Bolívia começa o ano em outra campanha eleitoral, com nova força política em ascensão, protagonizada pelo ultradireitista Luis Camacho.
Já a Venezuela adentra 2020 em moto contínuo. Em um ano, o autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó, não conseguiu manter o fôlego e mobilizar venezuelanos para a mudança do regime, que propagou como líquida e certa.
Tampouco o ditador Nicolás Maduro demonstrou capacidade para atenuar a ruína econômica e social que reflete o país. Aliás, o exemplo venezuelano é a melhor tradução de 2019: regime, oposição e comunidade internacional atuando de forma descoordenada, em detrimento dos interesses da população.

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