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Cerca de 7.150 candidatos foram selecionados para participar das eleições legislativas desta sexta-feira (21) no Irã, o equivalente à metade do número de inscritos. Muitas candidaturas reformistas foram impugnadas. Uma mulher passa por cartazes de propaganda eleitoral em Teerã, na quarta-feira (19)
Wana (West Asia News Agency)/Nazanin Tabatabaee via Reuters
Cerca de 7.150 candidatos foram selecionados para participar das eleições legislativas desta sexta-feira (21) no Irã, o equivalente à metade do número de inscritos. Muitas candidaturas reformistas foram impugnadas, num movimento que deve favorecer um retorno da maioria conservadora ao cenário político iraniano.
A campanha das eleições legislativas no Irã foi particularmente morna e os reformadores progressistas possuem poucas ilusões para o pleito que acontece nesta sexta-feira.
Muitas personalidades pró-reformas, incluindo deputados em fim de mandato, tiveram suas candidaturas invalidadas pelo Conselho de Guardiões da Constituição. O órgão, controlado pelos conservadores, é responsável por supervisionar a eleição, e, inclusive, aprovar os candidatos.
Em Teerã, parte dos reformadores decidiu não apresentar listas para as legislativas. Eleitores progressistas e moderados também se encontram desiludidos pelo histórico econômico e político do atual governo de Hassan Rouhani.
Os conservadores, por outro lado, conseguiram apresentar uma lista única, diferentemente das legislativas anteriores, e contam com uma desmobilização do eleitorado moderado para assumir o controle do Parlamento iraniano.
Para alguns cargos regionais, os reformadores não possuem candidatos qualificados, o que poderia facilitar ainda mais aos conservadores a retomada do Poder Legislativo.
Eleições parciais para a Assembleia de peritos
Juntamente com essas eleições legislativas, também há eleições suplementares para sete cadeiras na Assembleia de peritos, responsável pela nomeação do Líder Supremo Iraniano.
Mais uma vez, os conservadores estão em ascensão e duas figuras importantes do campo conservador, que estão concorrendo em Qom e Machhad, podem retornar ao grupo.
Em Qom, o aiatolá Mesbah Yazdi, conhecido por suas posições ultraconservadoras, enfrenta um jovem religioso desconhecido. Em Machhad, a situação é praticamente idêntica para o aiatolá Mohammad Yazdi.
O retorno desses dois religiosos ultraconservadores, que haviam sido derrotados há quatro anos, poderia fortalecer ainda mais o campo conservador da Assembleia de peritos, que deve desempenhar um papel importante na sucessão do Líder Supremo Iraniano, que está agora com 80 anos.
Boicote pode virar o jogo nas legislativas do Irã
A taxa de participação é uma das principais questões nas eleições legislativas de sexta-feira. Reformadores e moderados, ambos tradicionais apoiadores do presidente Hassan Rouhani, dizem que muitos de seus candidatos foram desqualificados, e agora se sentem desmotivados a votar.
Rouhani novamente pediu aos eleitores para participarem massivamente das eleições legislativas. A alta participação seria uma resposta à pressão exercida pelos Estados Unidos, afirmou o presidente iraniano.
Questionado sobre as consequências de uma participação inferior a 50% no pleito, Abbas Ali Kadkhodaie, presidente do Conselho dos Guardiães, afirmou que em tal situação será como na França ou em alguns países ocidentais, onde a baixa participação não coloca em xeque a legitimidade da votação ou de seu resultado.
A deterioração da situação econômica desde o retorno das sanções norte-americanas e os eventos dos últimos meses, incluindo os distúrbios de novembro passado, levantam temores de uma fraca participação nessas eleições legislativas.
Legitimidade
“Há apenas dois meses, 1.500 iranianos foram massacrados nas ruas e é a partir deste acontecimento que devemos ler o que está acontecendo hoje nessas eleições”, analisa Mahnaz Shirali, cientista política de origem iraniana, professora da universidade Sciences Po em Paris.
“A República Islâmica precisa se redimir adquirindo uma nova legitimidade aos olhos do mundo. Então, é importante que o país mostre que os iranianos o apoiam, votando”, avalia.
Segundo ele, “a única coisa que importa saber agora é quantos iranianos vão às urnas.” “Será muito difícil saber qual é a realidade da participação nas eleições, porque vimos nas últimas semanas como os líderes iranianos podem mentir para todo o planeta”, analisa Shirali.
A especialista afirma que o estado de espírito no país é pessimista.”Os iranianos estão perturbados porque dizem: ‘mesmo que não votemos, dirão que 90% das pessoas foram votar’. Para os iranianos, essas eleições são outra possibilidade para os líderes apresentarem seu novo espetáculo. Estamos em um país ditatorial com pessoas que são mestres da comunicação”, diz.
Reformistas céticos
Em um ginásio com a metade das arquibancadas ocupadas, a Aliança para o Irã, a principal lista reformista de Teerã, realizou sua último comício de campanha.
Diante dos candidatos, milhares de eleitores céticos que se queixam da desconexão entre o povo e os políticos em quem depositaram sua esperança. Mostafa Kavakebian, atual deputado e chefe da lista reformista, promete mudança.
“O movimento de reforma não deve ser visto como uma unidade coerente. Os reformadores que conseguirem entrar no Parlamento terão uma prioridade: reconstruir a confiança perdida. As pessoas devem sentir que seus líderes estão ouvindo suas necessidades, que escutam seus problemas e levam a sério as dificuldades econômicas”, disse Kavakebian.
“Anteriormente, votamos na eleição do presidente Rouhani apenas para apoiar o acordo nuclear. Eu estava ciente do impacto que ter laços com o Ocidente poderia ter. Hoje devemos encontrar novas lideranças”, finalizou o político.
Incertezas
Em um beco no grande mercado de Teerã, atrás de vários rolos de tecido, Mohsen espera resignadamente por um cliente para comprar algo.
“Nossas vendas diminuíram 40% em relação aos anos anteriores”, lamenta. Mas o que podemos fazer sobre isso? Continuamos em frente e veremos o que acontece. Pessoalmente, votei várias vezes, mas este ano não tenho certeza se vou votar. Vai depender da minha análise da situação no último momento”, diz o comerciante.
Neste mercado, poucos ambulantes parecem se preocupar com as eleições no Irã. Hamid vende sanduíches e também não tem certeza de ir votar. “É um pouco vago, os candidatos acabaram de iniciar sua campanha, mas não falaram o suficiente”, acredita ele.
“O que percebo é que os conservadores querem dominar o Parlamento. Antes o Congresso era liderado pelos partidos de esquerda, agora serão os partidos de direita. Esses partidos também estavam no poder antes deles, mas não fizeram nada pela economia”, analisa o comerciante.

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